Abril indígena e os saberes indígenas na defesa do seu povo na pandemia
Projeto Magia da
Terra, Mãe Terra, Sopão da Koran, suco e chá verde são saídas para lutar contra
as adversidades da pandemia
Por: Paulo Canuto
A pandemia de
covid-19 trouxe mudanças significativas na rotina do mundo inteiro e para isso
povos tiveram que se reinventar para se defender dessa doença que só no Brasil
já tirou a vida de mais de 400 mil pessoas. A realidade é que dificuldades
todos estão passando, porém existe uma outra fatia da população menos
favorecida que sofre ainda, como comunidades indígenas por exemplo, mas é delas
que também vemos exemplos de ações de combate a pandemia muito eficazes, como
as ações promovidas pela mezineira Koran da tribo Xucuru Kariri da mata da
cafurna em Palmeira dos Índios.
Os Xucuru Kariri usam
a cura e a manutenção da saúde através do uso de ervas medicinais, além de
cânticos e artes como a dança. A mezinheira, que significa mulher que cura com
as ervas e alimentação, além disso Koran é fundadora do projeto Magia da Terra
e Sopão da Koran que apesar de serem projetos permanentes, são grandes aliados
nessa luta contra a covid-19 e fizeram parte das ações do Abril Indígena.
“O projeto Magia
da terra em si surgiu em 2006, porque eu achava que faltava algo dentro da
associação, outro intuito do Magia da Terra era juntar o empoderamento da
mulher, seus conhecimentos e fortalecer a cultura indígena junto com o lado de ser mãe, da mulher que
planta, acolhedora de fato a magia da terra, o dom dentro de cada mulher”
explica Koran.
O Projeto faz
parte da Associação Indígena Associação Indígena do Grupo Wpyra – Swpyra AIGWS, criada em 2002
para divulgar a cultura indígena, fortalecer a medicina tradicional indígena e
trabalhar grupos de dança indígena como forma de cura. Outro intuito era ajudar
dando inclusive uma forma de fonte de renda e o empoderamento da mulher, trabalhando
com as ervas, para melhora da cura pessoal e da cura coletiva, aprendendo a
multiplicar o pouco que se tiver sem precisar sair da aldeia.
A maioria das
mulheres trabalham em casa, mas ainda assim precisam de uma renda e muitas precisam
sair para buscar essa renda fora, na casa do "homem branco" na cidade
e assim precisam deixar seus filhos em casa e o pouco que ganha o que muitas
vezes não dá para dar uma qualidade de vida para ela e a família, “o projeto
Magia da Terra pensa nessa qualidade de vida das mulheres, dentro da aldeia,
cuidando e estando perto dos filhos e ainda assim gerar renda sem precisar que
ela saia da comunidade” defende a mezinheira.
As soluções
encontradas foram, o resgate da argila e da cerâmica na fabricação de jarros e
panelas, o artesanato mais propriamente dito que foi chamado de “Mãe Terra” por
essa característica de trato direto com a terra. Além disso tudo, elas aprendem
também sobre essa violência doméstica, que é um problema que está no mundo
todo, e o projeto traz esse debate, sobre as violências, sobre o corpo e o
respeito a ele, foi com esse intuito também que nasceu o projeto.
Outro projeto é o
do corte e costura, o Moda AFroIn que trabalha as duas expressões das etnias
Afro e Indígena feito em parceria com o projeto Jared Vianna (Maceió) projeto
feminista, aliados aos povos de terreiros e as comunidades periféricas. O trato
e fabricação de artesanato também ajudou no combate a ansiedade, síndrome do
pânico por parte das mulheres e no incomodo com a TPM só pelo fato de estarem
entretidas com uma outra atividade que trazia prazer a elas, mas ela acabou
notando que os jovens estavam se destacando mais do que as mães, e agora nesse
projeto participam 15 jovens no Mãe Terra.
A comunidade da
mata da cafurna é pequena, com cerca de 160 famílias e em torno de 500 pessoas
que são moradoras, o terreno é pequeno graças a falta da demarcação e com as
casas bem próximas umas das outras, em algumas delas com mais de uma família
morando juntas, dai veio a questão do isolamento social e as medidas de segurança.
“Comecei a
pesquisar os efeitos da covid no corpo, o que ela causava e assim busquei na
terra “o tratamento” necessário, ervas, sementes, raízes e pós das raízes, já
que se nosso corpo se comunica com o que comemos, se nos alimentamos bem nosso
corpo se fortalece, então fomos buscar as plantas, raízes e etc que fortalecem
nossa imunidade, uma erva pudesse fortalecer nossa função pulmonar por exemplo,
explica Koran.
Com todo esse
conhecimento da terra conseguimos produzir um sopão e um suco verde que
trabalhava no aumento da imunidade que é distribuído para as mães e crianças
que vão tomar vacina no posto de saúde. Ela conta que eles “atacaram” a covid
antes que ela os atacasse, trabalhando o fortalecimento do corpo antes que o
mal se instalasse, sendo assim o magia da terra se antecipou, cuidou e
fortaleceu o corpo para que as pessoas não fossem acometidas pelo vírus.
O sopão ele está
parado por conta da falta de recursos para a produção, pois a comunidade possui
bastante macaxeira, batata doce, banana porém muitos outros ingredientes são
comprados como semente de girassol, linhaça e outros para um sopa rica em
nutrientes, coisa que sempre foi tratada com muito cuidado, para oferecer uma
sopa rica em nutrientes e não apenas com carboidratos por exemplos “por 5 meses
conseguimos manter com a ajuda de doações, mas pela alta dos preços as pessoas
não estão conseguindo mais doar” lamenta a líder comunitária.
Pela falta de
exames (subnotificação) não é possível um número oficial, mas caso se fossem
feitos exames em todos, chegaríamos a um número de 80% de infectados, mas
nenhum com sintomas graves, oficialmente tivemos apenas 5 infectados e todos
assintomáticos, a estratégia foi a de ação logo nos primeiros sintomas e isso
contribuiu para que não tivéssemos casos mais graves na comunidade.
O sopão da Koran
que beneficia tantas mães e famílias está parado por falta de recursos, mas
você pode ajudar contribuindo para que essa ação continue alimentando com
qualidade diversas famílias fazendo qualquer doação para compra dos materiais
necessários. As doações podem serem feitas através de depósito em conta:
Caixa Econômica:
Ag.: 0057
Op:013
C/p:45303-2
Banco do Brasil:
Ag:0136-8
C/c:10.178-8
Ou Pix
69996245420
“Um recado que
deixo para a comunidade brasileira é cuidar, preparar seu organismo, aprender a
se alimentar e fazer uma faxina mental, pensar positivo, não deixar o medo
tomar conta de você, olhar para esse mundo que é belo, essa vida que Deus nos
deu que ela é maravilhosa, da sua família, respirar, agradecer, tomar banhos de
sol, ingerir alimentos crus, aprender a descascar mais, quebrar mais do que
desembalando apenas e amar ao outro, a maior cura é o amor ao próximo, quando
aprendermos a amar e respeitar o próximo e suas diferenças estaremos curados”
finaliza Koran.
Matéria produzida
por Paulo Canuto, estudante de jornalismo e voluntário no projeto de extensão
Bureau de Comunicação Comunitária On-line no Combate à Covid-19 da Agerp
Cos/UFAL, coordenado pela professora Manuela Callou e adjunta Keka Rabelo
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